Aí está você, mais uma vez, bisbilhotando o perfil dele no facebook.
Não adianta fechar a aba agora, viu? Eu nem vou te julgar porque sei que
a culpa não foi sua e a foto apareceu logo na página inicial, ali do
ladinho. A visita foi inevitável. Aliás, precisamos ter uma conversa
séria com o senhor Mark Zuckerberg depois. Quem ele pensa que é para
colaborar tanto assim com o stalkcídio? Mas isso é assunto para
um próximo texto. Agora vamos falar sobre esse sentimento que você
guarda aí dentro a sete chaves. Ou talvez você até já tenha contado para
alguém. Tipo suas melhores amigas – pelo menos um milhão de vezes.
Uhum. Entendi tudo. Ele é o assunto da maioria das suas conversas e não
faz a menor ideia disso? Parabéns, você está apaixonada!
Para gente comemorar, sabe o que eu trouxe de presente? Conselhos.
É impressionante como as pessoas adoram dar conselhos quando o
assunto é amor platônico. Acho que é porque todo mundo já passou por
isso um dia, e os diferentes desfechos de cada relacionamento (ou quase
isso) fazem com que as pessoas acreditem e defendam suas teorias até a
morte. Não querendo te desanimar, mas seguir a risca o que dizem não
garante nada, viu? Porque embora seja uma situação parecida, você é uma
pessoa diferente e ele também. Não é meteorologia. É impossível prever
exatamente o que o outro sente.
Uma perspectiva diferente ajuda, clareia, mas no final das contas a
nossa bússola é mesmo aquele órgão bonitinho que (simbolicamente) nos
ensinam a desenhar quando ainda somos criança e não fazemos a menor
ideia do quão complicado essa coisa toda pode ser.
Onde eu estava mesmo? Ah, tá!
A base do amor platônico (aquele que nem chega a ser não
correspondido, pois a pessoa não faz ideia do sentimento) é a
insegurança. O excesso dela, para falar a verdade. Porque a paixão deixa
a gente naturalmente inseguro, né? Mas na proporção certa, me arrisco
em dizer, é saudável. É o que movimenta qualquer relacionamento e o
torna interessante. O problema é quando esse sentimento nasce com força
total antes de tudo começar. Antes mesmo da própria pessoa ter certeza
do que sente. É aí que começa a confusão.
Será que eu gosto? Será que estou confundido as coisas? Será que eu tenho alguma chance?
E a cada novo “será”, algo se perde dentro da gente. Um pouquinho da
personalidade. Um pouquinho do senso de humor. Quase toda a coragem.
Como o dia tem 24 horas e em muitas delas o cérebro não tá ocupado com
algo importante, lá vamos nós nos questionarmos mais uma vez. Vira um
vício. Tudo vai se transformando em pura idealização. Convenhamos,
imaginar como seria é muito mais confortável do que dar a cara a tapa e
arriscar.
E então, quando ele pergunta se tá tudo bem, a vontade é de dizer:
“Não, eu não estou bem. Não dormi direito noite passada porque você
saiu com ela. Eu sei disso porque sexta li vocês combinando no facebook.
Vi as fotos no sábado. Domingo eu disse que não pensaria nisso, que
começaria aquele livro, mas o personagem principal também me lembrou
você. Droga!” ou “Não, eu não estou bem porque você escuta aquela música
pensando nela e eu escuto pensando em você. E foi eu que te apresentei a
banda.” ou “Não, eu não estou bem porque você é
lindo-cheiroso-engraçado e está muito perto, mas não perto o
suficiente.”
E dizemos apenas:
“Sim, e você?”.
A bola de neve vai descendo ladeira a baixo e só aumentando. Não tem
como fugir de algo que tá dentro da gente mesmo, né? Então, só nos resta
assumir ou esquecer de vez. Falando assim parece que existem duas
opções distintas, mas ó, acho que a gente só consegue esquecer alguém de
vez quando chega no limite.
E o limite nunca é nem tentar.
Essa tal tentativa pode acontecer de infinitas formas. Se você não
estiver na quinta série, aconselho que a declaração não aconteça de uma
vez só e durante o intervalo. Se você estiver, tudo bem, eu fiz isso (só
para constar, o menino riu da minha cara, virou as costas e continuou
andando).
Das poucas certezas que tenho, uma delas é a de que os sentimentos
não nascem só com palavras e promessas. É preciso cultivá-lo no outro.
Plantar a sementinha, sabe? Deixar que ele te conheça e se envolva aos
pouquinhos. O amor é lindo, mas quando servido e entregue de uma vez só
em uma bandeja, assusta qualquer um. Sem contar que nesse meio tempo
você pode aproveitar para ter ainda mais certeza do que sente. Se é que
isso é possível.
Tenha paciência com os corações confusos. Se for o caso, já adianto,
você não irá substituir ninguém. Essa palavra não funciona muito quando
estamos falando de amores. Tire isso da cabeça antes que as comparações
comecem e te façam desistir aqui, nesse parágrafo, tão perto do fim. Tão
perto do começo.
Quando o cara perceber, caso (sem querer) você deixe escapar um
pensamento entre uma gargalhada e outra ou algum amigo engraçadão diga o
que já está óbvio para todos, esse texto se transformará em baboseira
pura.
O motivo? Sentimento não se conta, se demonstra.
(depois dos 15)